CRÓNICAS & OPINIÕES

INSTANTES ANTES DO GOLO: UMA CRÓNICA EM HOMENAGEM AO MUTANTE STROMBERG

Naquela tarde futebolística, todos os caminhos levavam ao Estádio Lino Correia. Sentia-se o tam tam dos tambores e via-se o mosaicismo adéptico, fazendo vibrar os corações e roubar olhares de todos. Era a partida entre Sporting Clube de Bissau e Académica de Ingoré, duas grandes rivais incontornáveis do futebol nacional na altura. O dia aparentava ter muito sol, mas eu não sentia sol, tinha sede, mas não matei sede.

Como sempre por volta das dezesseis horas, a partida iniciou, os artistas estavam em campo. Acelerou-se o batimento coraçónico e os fios dos meus cabelos viajavam dum lado para outro. Estava inquieto, virava para direita e esquerda, querendo as vezes levantar-se e nem podia. E aí, estava pensando sem pensar, falar sem falar, e de repente falei a mim mesmo dizendo:

-Se existir esta nação foi porque homens e mulheres derramaram sangue e suor,
fazendo de plantão durante noites. Agora a questão era quem são os verdadeiros
obreiros da unidade nacional? Se ouvimos os gatos se morderem pelo pedaço familiar, quem são os que congelam as puxa estica?

Nessa tentativa de entender a situação, nem terminei o meu raciocínio não verbal, o adversário estava quase a baliza do meu favorito time. Com espanto, olhei para os céus de Bandim, imaginando ajuda dos deuses. O que não disse foi que na verdade eu não apenas tinha o medo desta contra-ataque. Mas porque os ante visores do jogo já tinham prevido a vitória a equipa adversária. Assumi a postura mordedora dos dentes e sem nada para mastigar, meus olhos encheram de lágrimas e tinha apenas um litro e meia de água e sentado na bancada dos peões.

Passaram quinze minutos, a previsão parecia dar certa. Pensei, repensei e me interroguei:

Como eu ia viver se a minha equipa perder a partida? Medi a grandeza dos semideuses de hoje que no início se reduziram aos anões, cujas ações aliviaram muitos corações e uniram as partes divididas pelas espadas. Meu medo converteu-se em confiança e inquietações na esperada vitória.

De repente, a minha sede cresceu, talvez os deuses ouviram minhas lamentações ou porque ia nascer um semideus. Nem coloquei os lábios no bidão, lançou-se um ataque do lateral esquerdo e instantes depois, um golaço de Mutante Stromberg Có. Os golos choveram, passando de dois, três, cinco e seis.

Este jogador era um ser sem ser. Outra vida encarnada humana. Talento driblador, velocidade, me fez lembrar as gazelas de Jolmete. O que me marcou por último, foi como manifestou o golo, por coincidência, suas mãos direcionavam a mim, colocando uma pedra de gelo no meu humilde e pobre coração.

O Letrado Ianga
IN HOMENAGEM

Autor: Sanha Ianga, Docente na Unidade de Ensino Domingos Mendonça

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