CRÓNICAS & OPINIÕES

CRÓNICA: «DJURTUS, FIRKIDJAS DI UNIÃO»

Em Guiné-Bissau, onde as ruas sussurram lamentos e os dias caminham com passos pesados, há um momento em que o país veste o coração no peito. Um instante em que o tempo parece suspenso, e até o silêncio bate palmas. Esse instante tem nome: Djurtus em campo.

Não, os Djurtus não são apenas jogadores. Eles são poesia em movimento, ritmo de tambores antigos que renascem no som de cada chute. São a bandeira que corre, a esperança que dribla, o orgulho que marca golos de alma. Eles são “firkidjas di união” — faíscas de um povo que, por segundos, se lembra de que é um só corpo, um só grito, um só destino.

Enquanto o país tropeça em promessas partidas, os Djurtus correm com passos inteiros. Enquanto as vozes políticas se perdem em ecos vazios, os Djurtus falam com o silêncio do suor e a eloquência do esforço.

E quando a bola rola, rola também a lágrima da avó que nunca viu a sua aldeia na televisão, mas que agora vê o neto torcendo com olhos acesos. Rola o riso do menino descalço que, por um momento, calça chuteiras de sonho. Rola a alma de um povo, que se esquece da fome, da sede, do medo… e se lembra da fé.

Por noventa minutos, a Guiné-Bissau não é bandeira, é coração. Não é mapa, é sentimento. Não é dor, é fogo.

Mas esta crónica — esta carta falada ao coração — não é só para aplaudir. É para refletir.

Se conseguimos nos unir para torcer, por que não conseguimos nos unir para construir?
Se gritamos juntos por uma bola, por que nos calamos diante da educação que falta, da saúde que falha, da justiça que dorme?
Se os Djurtus — vindos de várias etnias, idiomas e origens — se entendem com os pés e vencem com o espírito, por que não podemos fazer o mesmo na política, na economia, na aldeia, no bairro?

Os Djurtus são um espelho em movimento. E o que esse espelho reflete é simples: um povo unido pode tudo.

Cada golo é uma luz que se acende numa casa escura.
Cada vitória é uma ponte que se constrói sobre os rios da discórdia.
Cada derrota é uma lição escrita com suor, não com tinta.

Djurtus, firkidjas di união.
Que essas faíscas não morram com o apito final.
Que se tornem incêndio de consciência, fogo de patriotismo, clarão que acorda a Guiné-Bissau adormecida em si mesma.

Porque abraçar os Djurtus… é abraçar a Guiné que queremos.
E gritar por eles… é gritar por nós.

Por: LETRADO IANGA

Artigos Relacionados

Deixe um comentário

Botão Voltar ao Topo

Adblock Detectado

Por favor, considere apoiar o nosso site desligando o seu ad blocker.