BINTA CAMARÁ EXEMPLO DA MULHER QUE CONQUISTOU O SEU ESPAÇO NO FUTEBOL DA GUINÉ-BISSAU
Binta Camará é o nome bem conhecido entre os amantes do futebol na Guiné-Bissau, ultrapassou os preconceitos machistas, triunfou como jogadora e agora é dirigente, ocupando o cargo do Team Manager da seleção nacional feminina. Capitaneou a seleção nacional, foi sete vezes campeã nacional, melhor jogadora e melhor marcadora por seis vezes.
FUT 245 visitou Binta Camará e falou com ela do seu percurso e sobre uma paixão incomum nas mulheres guineenses resultado de preconceitos criados a volta da prática do futebol que muitos julgam que é exclusivamente para os homens.
“Escolhi o futebol para ser o meu trabalho, é a minha paixão e até hoje estou no futebol. Quando falo de mim no futebol emociono-me porque é o que gosto, para dizer passei todo tempo no Mavegro FC, é o único clube que joguei na Guiné-Bissau, é o clube que me deu tudo“. Revelou Binta Camará à reportagem do FUT 245.
Camará referiu que apesar do cenário para ela fosse fácil, o mesmo não se verificava com as outras meninas e ela era uma das raparigas que iam com o Toni Burgo e outras pessoas para convencer as meninas a irem aos campos praticar o futebol e nem sempre conseguiam o lugar adequado para jogar.
“Lembro-me de várias vezes que íamos ao Lino Correia, não conseguíamos o campo para treinar e treinávamos na entrada, no campo onde arrumaram a arreia ao pé do campo do Sporting, mas muitas vezes nos expulsavam dirigindo palavrões – Vão cozinhar, vão lavar a loiça, já viram a mulher a jogar?…já viram a mulher a ir a Europa jogar futebol?, não gostam de trabalhar. Recordou Bintá Camará.
Contrariamente às outras raparigas, Binta Camará teve apoio familiar na prossecução do seu sonho de ser futebolista. “Na minha família, não foi difícil porque é uma herança familiar, o meu pai foi jogador e todos os meus irmãos são jogadores portanto a minha mãe compactuava com isso porque vivia no seio dos jogadores.“
O atual Team Manager da seleção feminina nacional disse que os maus tratos associados aos preconceitos machistas nunca lhe desviaram o foco porque futebol é a sua escolha e hoje sente-se feliz por ver as meninas a praticarem o futebol já sem serem insultados, graças às insistências que fizeram para romper esta barreira e que os outros igualmente fizeram antes delas.
Enquanto jogadora, Bintá Camará foi polivalente, começou a jogar como lateral, passou pelo centro do campo, segundo avançado e finalmente o Mister Ncoca colocou-lhe como ponta-de-lança posição que jogou nos últimos anos. Camará disse que jogava sempre onde o treinador achar melhor, mas a sua posição preferencial é 10.
Nesta entrevista exclusiva ao FUT 245, Bintá Camará pediu aos pais e encarregados de educação a deixarem as suas filhas a praticarem o futebol, porque é possível jogar o futebol como os homens e ao mesmo tempo advertiu às meninas que coloquem a escola em primeiro lugar, mesmo jogando nunca devem deixar de ir à escola.