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GUILHERME FARINHA E A SAÍDA DA GUINÉ-BISSAU: «VI QUE O DINHEIRO DA FIFA IA PARA OUTRAS SITUAÇÕES»

Era diretor técnico nacional mas acabou por sair desagradado com “algumas situações”

O português Guilherme Farinha culminou em março as funções de diretor técnico nacional da Federação de Futebol da Guiné-Bissau (FFGB), face a divergências nas rotinas de trabalho com a entidade liderada por Carlos Teixeira.

“Pedi a melhoria das infraestruturas. Quando lá cheguei, havia a seleção AA masculina e feminina e os sub-17 e sub-20 masculinos. Nada mais. Em um ano de trabalho, reabri o Centro Nacional de formação de futebolistas, que já tinha montado aquando da minha primeira passagem, e criei as seleções nacionais masculinas e femininas de sub-11, sub-13, sub-15, sub-17, sub-20 e olímpica”, lembrou à agência Lusa o treinador, de 66 anos.

Nomeado para o cargo em janeiro de 2021, em substituição de Jerónimo Mendes, o ex-selecionador de sub-17 dos ‘djurtus’ (1990-1994) foi convidado por Carlos Teixeira para “arrumar a casa”, mas saiu ao fim de 15 meses, desagradado com “algumas situações”.

“A primeira ‘bofetada’ que levei foi a FFGB não dar a hipótese de a seleção feminina de sub-20 viajar até ao Gabão para se tentar apurar para o Mundial da categoria, que vai decorrer na Costa Rica, em agosto, devido a outros interesses particulares. Essa equipa trabalhou bastantes meses e estava mais do que preparada e mentalizada para lutar por uma vaga na fase final do torneio, mas ficou parada e não logrou o objetivo”, lamentou.

A “gota de água que entornou o copo” deu-se quando foi inviabilizado o desejo de levar pela primeira vez a Guiné-Bissau aos Jogos Olímpicos Paris’2024, depois de Guilherme Farinha ter “começado a estudar e a planear” as bases para “ir buscar uma medalha”.

“Vi que o dinheiro da FIFA ia para outras situações que não o desenvolvimento da Guiné-Bissau. Por ética, gosto muito de respeitar as decisões da minha hierarquia, mas aquilo que está combinado e programado tem de se cumprir. Senti muito carinho do povo. As pessoas ainda hoje me querem lá, escrevem-me e telefonam-me, mas a única coisa que tive de fazer foi dizer ao presidente Carlos Teixeira que chegava para mim”, partilhou.

O técnico lisboeta, que chegou a orientar o líder federativo no Praiense (1995/96) e nas seleções guineenses, admitiu em público existirem “diversos bloqueios” ao seu trabalho, declarações que caíram mal na FFGB e aceleraram o seu despedimento há dois meses.

“Não poderia trabalhar desta forma, porque gosto muito da disciplina, da organização e planifico o trabalho. Vejo que a Guiné-Bissau tem talento e possibilidades, mesmo sendo um país com dois milhões de habitantes e 34 quilómetros quadrados. Para mim, era um desgosto e revolta muito grande ver uma nação com talento para chegar às fases finais das provas a dar prioridade a outras situações. Como tal, o meu tempo acabou”, notou.

Com experiência acumulada em quatro continentes, Guilherme Farinha está a ponderar um novo desafio no principal campeonato da Costa Rica, após ter repartido as últimas semanas em “palestras e ações formativas”, de forma a “estudar e colocar as ideias em dia para se poder considerar um técnico atualizado e preparado para abraçar desafios”.

“Houve uma hipótese muito engraçada em abril. Um grande clube grego queria contratar-me. O presidente gostou do meu currículo – e tenho conhecimento de que o deixou em cima da sua secretária -, mas não me contratou, pois tinha de ter passado como técnico na Liga dos Campeões obrigatoriamente”, vincou, sem identificar o emblema em causa.

Bicampeão na Costa Rica pelo Alajuelense (1999/2000 e 2001/02), passou também por Paraguai, Irão e Guatemala e treinou vários clubes em Portugal, país onde “gostava de acabar” a carreira e está consciente de que “necessita forçosamente de um empresário”.

“Não tenho empresário em Portugal, mas não fecho as portas a eles. O meu ADN não é ser diretor técnico nacional ou diretor desportivo de um clube ou de uma academia, mas passa por ser treinador. Quero terminar uma carreira de 45 anos dedicados ao futebol, através do qual defendi os interesses e abri portas aos técnicos portugueses, fiz sempre bons trabalhos e deixei boa imagem de homem e de treinador por onde passei”, referiu o primeiro timoneiro luso a sagrar-se campeão na América do Norte, Central e Caraíbas.

RYTF // AMG

Lusa/Fim

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